Pedaço de casa
A luz só atravessava o buraco da fechadura ou pelas frestas
da porta. Quase claustrofóbico, o quarto não tinha janelas. Os restos de um
tapete de um metro quadrado cobriam a parte
livre do chão de tacos. Encostados na parede estavam o armário, a cama e
uma mesa. O relógio, que marcava três e dez há dez anos, servia apenas como
enfeite na parede bege descascada. Com suas portas revestidas por fotografias e
sem puxadores, o armário guardava bolsas, mochilas, bolas, revistas, tudo,
menos roupas. Uma máquina de costura ocupava metade da mesa de madeira no
canto. O espaço destinado às gavetas estava ocupado por uma teia de aranha, sem
aranha. Um plástico revestia a cama, apesar de opaco, não escondia a colcha do
Corinthians que estava por baixo. A lâmpada, sem nenhum adorno, quando ligada
deixava o ambiente laranja, laranja como o nariz de um urso de pelúcia, jogado
num canto. Um quadro, com um cachorro toscamente pintado, está pendurado ao
lado da porta. O lugar conta com um toque especial, uma grossa camada de pó –
marca da vida - , que há tempos não passa por lá.
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