Os aromas do natal
Dia 24, estava há três dias alternando entre arrumar, limpar a casa e fazer comida. Apanhou de manhã. Toda data comemorativa seu marido arranjava um motivo para encrencar, cheirava a café. Seus dois filhos... Ah, seus dois filhos eram uma desgraça. Para cada cômodo arrumado eram três que eles bagunçavam. Não tem paz. Sempre se perguntava o porquê de continuar comemorando o natal em sua casa ano após ano. Abriu o armário, o cheiro das panelas é nostálgico. Remete a um tempo em que não viveu, mas lembra-se bem. Talvez até tenha protagonizado essas lembranças, mas só as lembra de fato porque sua mãe contou. A criança em cima da pia, sentada. Observava atenta à mãe, suada, amassando um pão. Abria um armário, mal instalado, ao lado do fogão e um cheiro forte de ferro, lata -não sabia bem- subia, contrastando com o cheiro quente e gorduroso do peru, que já havia tomado toda casa. Ela queria ser habilidosa como a mãe, que enfeitiçava todos com aqueles cheiros, mas não tinha tempo. Ainda tin