Postagens

Mostrando postagens de 2012

Os aromas do natal

Dia 24, estava há três dias alternando entre arrumar, limpar a casa e fazer comida. Apanhou de manhã. Toda data comemorativa seu marido arranjava um motivo para encrencar, cheirava a café. Seus dois filhos... Ah, seus dois filhos eram uma desgraça. Para cada cômodo arrumado eram três que eles bagunçavam. Não tem paz. Sempre se perguntava o porquê de continuar comemorando o natal em sua casa ano após ano. Abriu o armário, o cheiro das panelas é nostálgico. Remete a um tempo em que não viveu, mas lembra-se bem. Talvez até tenha protagonizado essas lembranças, mas só as lembra de fato porque sua mãe contou. A criança em cima da pia, sentada. Observava atenta à mãe, suada, amassando um pão. Abria um armário, mal instalado, ao lado do fogão e um cheiro forte de ferro, lata -não sabia bem- subia, contrastando com o cheiro quente e gorduroso do peru, que já havia tomado toda casa. Ela queria ser habilidosa como a mãe, que enfeitiçava todos com aqueles cheiros, mas não tinha tempo. Ainda tin

João raso: Tudo e nada

João, gostava de romances, mas não gostava de amar. Tudo em sua vida era mentira. Seus estudos, suas namoradas, seus trabalhos. Mentiras que, com o tempo, não tinham força para se sustentar e acabavam. Projetava-se através de sua imagem. Acreditava ser interessante graças a objetos: o cigarro era seu charme. O relógio era para ver se a hora passava, queria chegar logo, só não sabia onde. Suas roupas eram o enfeite, ele a árvore de natal, mas faltava alguma coisa. Ainda assim vivia. Às vezes pensava em ter propósito para tudo. Pensou em comer a barata da Clarice, mas não gostava de contos, achou que não faria sentido. Pensou em ter uma namorada, mas dava muito trabalho. Pensou até em ter um cachorro, mas já tinha um e não teve seu problema resolvido. Tentou ler: coisas que não tinha sentido, com gente que não existia e histórias que nunca aconteceriam. Queria continuar lendo, queria achar sentido, mas não gostava. Uma paixão que ardesse na carne, que sugasse toda sua vontade de vive

Amor demais

Era mais um daqueles dias, difíceis de viver. O alvorecer, quente e alaranjado, deixava tudo mais cansativo que de costume. Tenho a impressão de estar num faroeste urbano, lutando pra ser o cowboy, mesmo consciente de que sou o bandido. Eu não sei bem por que levo a vida que levo, mas até aí... quem sabe? Não é por falta de sorte, isso não é justificativa para ninguém. Foi a falta de propósito mesmo, ou incentivo, mas que se dane. A Mariângela me espera toda noite com uma janta fria, café morno e o corpo quente. Me canso, mas não aprovaria se ela mudasse os hábitos. Nos sustento fazendo a segurança de uma casa, não sei o que tem lá. A instrução foi "Se alguém chegar perto você nos avisa, perto demais você questiona, se tentar entrar sem a nossa permissão, você arrebenta.". Assim eu fiz. Foram poucos os que precisei bater. Melhor, não gosto de briga. Não tenho muito o que fazer lá. Vez ou outra aparecem uns tipos bem vestidos, vida boa, segue um padrão o estilo de quem fre

A vaidade - I

Lurdes saltou da cama. Rapidamente vestiu a roupa que estava pendurada na cadeira, amarrou os cabelos curtos num rabicó, alto e mal feito - estava atrasada, esqueceu-se dos grampos - tomou um café requentado e saiu, correndo, para o ponto de ônibus.  Joana não estava muito disposta naquela manhã. Sentou-se e escovou demoradamente os cabelos enquanto conferia se tudo estava no lugar. Ela não sabia ao certo se seu medo era de "derreter" ou se um dia Deus ia castigá-la por ter mudado tanto o próprio corpo. Logo esqueceu e voltou a escovar com mais intensidade os longos fios dourados até obter a composição perfeita e desejada. Conferiu as horas e ficou impaciente, 10 e meia e sem café. Ia escolher a roupa para a noite quando a porta abriu e uma bandeja anunciava a chegada de Lurdes, meia hora atrasada. - Você é debil mental? Atrasa meu café, não bate na porta e traz pão com queijo! É sério isso? Você quer perder o emprego? Sorte sua que sou muito boa. Olhava para

Sufocou-se de si

Osvaldo levanta cedo todo dia, mas não acorda. Vai para o trabalho às 8h, mas não está lá. Come no boteco do lado da empresa, nunca se alimenta. Pega o carro e, na volta pra casa, liga o rádio, mas não ouve. Todo dia come a mulher, mas não sente. Segue reto, mas é todo torto. Osvaldo trabalha com seguros. Vende seguros de vida, que não salvam ninguém e não trazem a vida de volta, caso a pessoa não goste da morte, só segura uma coisa que não tem reembolso se perdida. Ainda assim ele vende, ainda que não acredite. Sempre faz o que sua mulher manda, apesar de achar tudo errado e não ter vontade de fazê-lo. Osvaldo tem dinheiro, boa casa, bom carro, boa família, ainda assim é vazio. Osvaldo passou toda vida procurando as vantagens de viver, convenceu-se então que se tem vantagem também tem desvantagem, preferiu viver sem os dois. Seguiu o curso natural, evitou fazer escolhas o máximo que pode, deixava tudo pra sua mulher, Vivian. Atrasou-se, certa vez. Acordou às 11h, perdeu-se

As graciosidades dela

Imagem
Gracinha era prima de Astolfo, que, de passagem por Salto para rever a família, resolveu levá-la para conhecer São Paulo. Foi ele que, em 1973 apresentou Roberto, então com 26 anos, a Gracinha, que tinha 20.  Roberto era meio torto, mas charmoso, loiro, olhos castanhos, boca fina, pele branca, magro, alto e, sem dúvidas, muito elegante. Ela era alta também, ferindo o padrão (de todas as épocas), em que as baixinhas têm toda a preferência, morena, cara de brava, sobrancelhas grossas, e suas roupas escondiam o belo corpo que tinha. Certo dia, foi com seu primo à casa de Roberto, conversaram toda a tarde. A boquinha, pequena e carnuda, sorriu quando descobriu uma televisão a cores na sala da casa do rapaz.  Gracinha estendeu sua permanência em São Paulo. Roberto a levou para jantar, assistir no cinema  Toda Nudez Será Castigada, bailes e a eventos frequentados pela elite paulistana de 70. Enfim, sua volta para Salto se deu apenas para avisar aos pais sobre o casamento e pedir b

O amor de ninguém.

O gosto do chiclete me distrai. Tenho que esperar mais 1 hora, já estou aqui há 3. São tantas opções que eu não sei em quem pensar... O tio que não gostava  dele, os amigos, os inimigos (que não eram poucos), talvez o pai. Não, o pai não. Ninguém me dizia nada, como ou onde o encontraram, porque sumiu e quem o pegou. Só me restava esperar. Valter era ruim, mas ruim de dar ódio. Em toda sua vida, de longos 27 anos, se frequentou 1 ano de escola foi muito, apesar de ir todo dia pra porta, "azarar" as menininhas, como ele dizia. Tinha uma beleza ímpar, exótica, bonita demais para um favelado. A pele não chegava a ser negra, era dourada, mas sem brilho, a vida de miserável limitava-o ao jambo. Os cabelos, castanhos, revoltos como ondas de mar em ressaca. Alto, forte, cara de mal e uma boca... Seu ponto forte, deixava qualquer uma louca. Até as patricinhas, sabe-se lá como ele as conhecia, se derretiam por ele. Seu trunfo, que convencia quem ainda tivesse dúvida, era a voz, gros

Nosso (breve) amor

Ele estava sentado, do meio pro fundo da sala. Mostrava o caderno pra um amigo esquisito, lembrava o Frankenstein, quando me sentei atrás dele e resolvi ouvir a conversa: -Esse aqui ficou massa, cara. O Aníbal (professor de redação) fez questão de ler pra todo mundo! Quer ler? -Tenho que resolver física, cara. Foi mal. De sorridente e orgulhoso, sua feição passou para insatisfeita e rejeitada e, de prontidão, eu disse: -Oi, eu sou Amanda, são poemas? Posso ler? (volta o sorriso, dessa vez tímido) -Oi, pode, claro que pode. E me dá a jóia, que meses mais tarde perdeu por uma das salas do Anglo Tamandaré. Li coisas maravilhosas, um poema sobre um boquete, dava pre sentir,ver, ouvir, de tão bem escrito que estava.  A vida, nua, crua, como era, mas toda poetizada, uma exposição enorme. Com palavras sofiticadas e uma letra garranchuda, foi assim que conheci Leonardo Fernandes. Com o tempo descobri que ele, apesar da boa condição financeira, era simples, tinha péssimo gosto musical, fala

Quando me cansei de você

Querido X, Me arrependo, profundamente, quando chorei dizendo para os meus amigos que desejava que eles encontrassem um X para a vida deles, que eles pudessem se sentir tão felizes como eu estava me sentindo. É perda de tempo, apenas, acreditar que tanta coisa boa pudesse se manter por muito tempo. Sabe que paixão é loucura que passa como terremoto. Estou agora no processo final da reconstrução, Já sequei as lágrimas da enchente, já reestruturei a base coração. Só me falta o mais importante, estabilizar a razão. Escrevo pra tirar de mim, porque calar significa manter e, de você, eu preciso me livrar, me exorcizar. Você foi um excelente 'você', mas não soube ser nós, mostrou que é o você quem manda. Não sei se perdeu, porque não sei se minha ausência é perda, mas não tem mais os minutos diários no meu pensamento. Não me tem mais nas suas mãos. Também não tem meu rancor, ou desprezo, não tem mais espaço pra ser presente ou futuro, só pra ser lembrança. Sabe o que é mais eng

Leonardo, meu príncipe poeta.

L: Novidades dos ares de sua vida de pétalas a dizer bem me quer, mal me quer? A: Te quero bem, mal quero ninguém. Quanto a minha vida de pétalas, só restou a rosa despetalada, espero que as petalas caídas embelezem a vida de um outro alguém tanto quanto embelezaram a minha L: Não, espero que as pétalas caídas lhe façam um banho de rosas pra inebriar, ainda mais seu perfume, já muito inebriante e muito ardente perdido pelos idiotas e enterrado no baú para os aventureiros Eu esqueci como eu sou capaz de amar intensamente. Você foi um dos poucos que me fez lembrar, não importa quanto tempo passar, eu vou te manter vivo sorrindo, de vermelho, pra mim, aqui.Você foi mais que um irmão, mais que um amigo, um anjo na minha sin city.

Que fase.

 Bom, confesso, aprendi algumas coisas com o universo que a faculdade me inseriu. Confirmei o quão superestimada é a faculdade, como é possível, sim, que vivam toda uma vida sem ela. Não me lembro bem por que foi que escolhi Jornalismo, talvez mais pela rebeldia de ir contra o que meus pais queriam pra mim (direito).  Talvez eu goste mesmo desse curso, ou ele goste de mim. Me sinto a estranha no ninho, na Cásper, e tais sentimentos intensificam-se e se reforçam com a satisfação e tranquilidade dos que me cercam lá Todos têm problemas, egoísmo meu dizer que sou o alvo do azar. Só que é conciso e real dizer que sou antagônica à sorte. Pois é, não tenho a sorte de uma vida tranquila, mastigadinha e pronta pra eu digerir. Estou um pouco atrasada com a vida, então vou acertas os ponteiros, e depois volto, ou pelo menos... tento, rs.