Nosso (breve) amor
Ele estava sentado, do meio pro fundo da sala. Mostrava o caderno pra um amigo esquisito, lembrava o Frankenstein, quando me sentei atrás dele e resolvi ouvir a conversa: -Esse aqui ficou massa, cara. O Aníbal (professor de redação) fez questão de ler pra todo mundo! Quer ler? -Tenho que resolver física, cara. Foi mal. De sorridente e orgulhoso, sua feição passou para insatisfeita e rejeitada e, de prontidão, eu disse: -Oi, eu sou Amanda, são poemas? Posso ler? (volta o sorriso, dessa vez tímido) -Oi, pode, claro que pode. E me dá a jóia, que meses mais tarde perdeu por uma das salas do Anglo Tamandaré. Li coisas maravilhosas, um poema sobre um boquete, dava pre sentir,ver, ouvir, de tão bem escrito que estava. A vida, nua, crua, como era, mas toda poetizada, uma exposição enorme. Com palavras sofiticadas e uma letra garranchuda, foi assim que conheci Leonardo Fernandes. Com o tempo descobri que ele, apesar da boa condição financeira, era simples, tinha péssimo gosto musical, ...