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Mostrando postagens de fevereiro, 2013

Consulta de rotina

Perdeu todo seu aspecto jovial para dois cadáveres: Um que o desejava e outro que o construiu. O velho, angustiado, surdo, esperava o médico e a morte. Estava cansado, não por uso excessivo do corpo, mas da vida. Precisava de muito tempo pra falar, caminhar um trajeto curto, entender o que lhe era perguntado, não tinha tempo. Seu filho, sentado ao lado, sentia-se na obrigação de acompanhar o pai, apesar da pouca vontade. Desenrolava uma conversa que nada dizia, silenciosa. Estava numa visita de rotina ao urologista e estranhou a presença feminina recém instalada na poltrona ao lado. "Você também vai se consultar?". Pergunta indignado, indelicado e objetivo - sabia das esquisitices do mundo, mas aquela moça era sua incógnita. "Não, vim buscar receita para o meu avô. Ele não tem mais condições de vir." Responde baixo, pacientemente e delicadamente. "COMO?" Exige o velho surdo que ela repita. Não nota as lágrimas invisíveis que se formam no rost