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Mostrando postagens de janeiro, 2013

Meu corpo, meu amor

Começou nova, mas tarde em uma profissão em que 30 é idade para se aposentar. Estava sem perspectivas e acreditava que vender o corpo era a única opção para quem não tem mais opção nenhuma. A rotina era mais cansativa do que a dos outros. Repetia, no mínimo, 50 vezes a mesma coisa, todos os dias de toda semana em todos meses do ano inteiro. Convencia muito menos da metade dos que ouviam-na. Considerava-se uma ninguém, com a esperança de construir algum caráter com o dinheiro. Às vezes, perguntava-se como a vida escolhia o destino de cada um. Se tivera azar ou sorte em ser e viver o que era, ainda não sabia. De qualquer forma não podia se queixar, tinha como se virar, tinha beleza suficiente para exigir um extra dos clientes. A boceta ardida era um contra, seu ponto fraco, logo sua fonte de renda... Cristina se apresentava como Marcela, a puta perfeita. Fazia tudo. Sentia-se bem em ser objeto de desejo para alguém, excitava-a. No começo tinha medo. - Você sabe que um dia vai ser f

O som do silêncio

Sempre dormi com o ventilador ligado. Acordei com os gritos de minha mãe e , mais tarde, com os de minha esposa. Vivi com o som da cidade. Estamos em tempos difíceis, secos, de racionamento de energia, mas eu não ligo. Só quero dormir. Dia longo. O ventilador é uma canção maravilhosa para mim. Em um estalo parou e nada liga "Merda", é a porra do apagão. Minha esposa não notou, dorme. Percebo o que realmente é o silêncio. A respiração de Camila é alta, o estalo dos tacos no chão é alto, o silêncio é alto. Vou  até a cozinha, a luz não acende, mas o interruptor estala, a porta da geladeira, a tampa da garrafa, a cadeira em que esbarro; Ouço meus movimentos, todos. Nada é mais alto, porém, que os gritos, meus pensamentos gritam. Eu quero dormir, mas o silêncio é ensurdecedor. Traz a tona coisas que eu não lembrava existir e que me incomodam.  Já tem uns 2 anos que a Marjorie tá aqui, vagabunda.  Por que Camila deu abrigo pra prima?  Como isso me atormenta. Ela tem pernas

Visceral

Não tem nada que me agrade mais do que pensar nele. Eu vejo a gente numa sala com janelas grandes. Não dizemos que nos amamos ou odiamos, não sentimos nada. Eu estou com calor, a presença dele faz isso. Discutimos sobre tudo um pouco, sobre nossos olhares. Ele tem uma boca linda, fico molhada só de pensar nela... Ele sorri, como se lesse meus pensamentos. Sai da cadeira e vem para o meu sofá. Faço do meu corpo um convite, que ele aceita. Apesar de querer tudo de uma só vez, começa pelas minhas coxas. Me senta em seu colo, me ajeita, me encara, me beija. Transamos devagar e rápido e pouco e muito. O nosso desejo faz com que a gente queira consumir ao máximo um ao outro, sentir tudo o que podemos nos dar. A gente cansa, não quer parar, mas cansa. Senta cada um em uma ponta do sofá. Ele fuma, eu olho. Por um longo tempo a gente só se olha, conversa nunca foi nosso forte. Ele então diz... Fernanda não sabe que ele ia dizer, acordou com o despertador. Queria mais, ele estava longe. S